O que fazer em três dias nos Lençóis Maranhenses
Roteiro de 3 dias
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses ocupa uma área de 155 mil hectares e isso equivale ao tamanho da cidade de São Paulo. Imagine a quantidade de passeios e atrações nesse espaço gigantesco!
Com suas características de dunas, restinga e mangue, os Lençóis oferecem inúmeras possibilidades para quem quer fazer ecoturismo e conhecer paisagens deslumbrantes. Vem com a gente saber mais sobre o que fazer em um roteiro de três dias nos Lençóis Maranhenses com base em Atins.
Os passeios na região quase todos dependem de um guia. Na maioria dos atrativos é obrigatório estar com guia e veículo credenciados, especialmente quando você vai entrar no parque nacional. Existem inúmeras agências locais que organizam passeios privativos ou em grupo e as próprias pousadas também vendem os passeios através dos seus concierges. Na baixa temporada é possível contratar tudo ao chegar, porém na alta é recomendado que já saia da sua origem com os dias e horários reservados.
Esta é a parte mais desafiadora da viagem para os Lençóis. Conseguir reservar seus passeios e transfers com antecedência. É preciso muita paciência e entrar em contato diversas vezes com as agências para conseguir os valores e os roteiros. Muitas vezes eles enviam pacotes “prontos” para o período que você vai ficar. Se você quer alterar ou personalizar mais o seu roteiro, começa a dificuldade em conseguir retorno e que respondam exatamente as perguntas que foram feitas. Após várias pesquisas, decidimos fechar as atividades diretamente com o concierge da pousada, com quem tivemos um bom contato desde o momento da reserva da hospedagem.
Em três dias inteiros, conseguimos fazer um passeio grande por dia. O propósito da viagem não era fazer tudo correndo, então deixamos alguns horários mais livres para ir à praia e aproveitar a pousada.
Dia 1: Praia e Cavalgada
A Praia de Atins ficava muito perto da pousada, então aproveitamos a manhã para um dolce far niente e começarmos a entender o povoado.
As ruas são todas de areia, só precisa de um chinelo mesmo para caminhar por lá. Sapato e tênis você pode deixar em casa. No caminho para a praia, encontramos cabritos, jegues, galinhas… as criações dos vizinhos ficam todas espalhadas por aí. Há muitos, mas muitos cajueiros em Atins. Estavam todos floridos, então em breve estarão carregadinhos e exalando um perfume maravilhoso!
Na parte da manhã a maré estava baixa, formando uma imensa piscina e um banco de areia. A água quentinha era super convidativa, pergunta se eu queria sair de dentro. O céu de um azul profundo estava perfeito para uma praia mesmo! Acompanhar a tábua de marés é muito importante, para que você saiba qual o melhor horário para tomar seu banho de mar. Quando ela está vazante, formam-se as piscinas maravilhosas para banho. Quando ela está cheia, o mar vem até a parte de cima, cobrindo as entradas dos quiosques e deixando uma pequena nesga de areia aparente.
Entre julho e dezembro a galera do kitesurf invade a praia – dizem que é a época dos melhores ventos – e é muito bonito ver as velas coloridas rasgando o céu. Há escolas de kite desde o nível iniciante, mas devido ao pouco tempo e aos meus escassos dotes esportivos não cheguei a tentar desta vez.
Você pode deixar seus pertences em uma das barracas da praia e curtir a água. Nós ficamos na barraca Estresse Zero, que tem mesas, redes e chuveirão. Fiquei super segura em deixar minha bolsinha na mesa enquanto estava na água. Só havia mais três famílias por ali além de nós.
Outros quiosques que você pode visitar são o Bar.co (como o nome diz, tem forma de barco e fica bem na beira da praia), o Maria Bonita (com deck para observar o movimento do kite e o pôr do sol) e o Charme Beach Bar (mais sofisticado e badalado, estilo beach club com DJ).
Na parte da tarde, foi hora de ter o primeiro contato com o Parque Nacional. Fizemos a cavalgada ao pôr do sol com a Sempre Atins Cavalgadas.
Este é um paseio de curta duração, com aproximadamente três horas. O guia Oziel nos pegou na pousada às 15h30, já com os cavalos. Não é necessário ser experiente – eu, por exemplo, ando a cavalo uma vez por ano e olhe lá!
A única exigência é que estejam todos de calças compridas. Aconselho que leve água e passe bastante protetor solar porque mesmo no final da tarde o sol ainda é forte.
Começamos passando por uma área de restinga, bem plana e com bastante vegetação. Ali encontramos muitos pássaros, cabritos e jegues soltos. Passamos por algumas áreas alagadas por conta das chuvas quando finalmente avistamos as primeiras dunas altas. Este passeio percorre a localidade do Canto do Atins, a parte do parque mais próxima do povoado.
Os cavalos são mansos e acostumados ao passeio. No total, a Sempre Atins possui 15 animais que vão sendo revezados ao longo da semana. Eu, como sempre, dou “sorte” de pegar o cavalo mais preguiçoso, que vai atrás de todos os outros. Pelo menos desta vez o meu não quis parar para comer a cada cinco minutos.
Eles sobem as dunas bem tranquilamente, com o ritmo ditado pelo guia. Lá de cima a visão é belíssima. Em alguns momentos só vemos areia, mais à frente avistamos o mar e mais vegetação. A areia é muito branquinha e fina. O vento constante rapidamente apaga as nossas pegadas e vai mudando o aspecto das dunas de um dia para o outro. Passamos por várias lagoas muito bonitas. Nesse horário não havia movimento pelos locais onde passamos, não avistamos ninguém ao longo do passeio. Éramos nós, os cavalos e a natureza.
No retorno, fizemos uma parada no alto de uma duna para ver o pôr do sol, que é indescritível nessa região. Em todos os passeios vimos espetáculos belíssimos, com o sol laranja e imenso se pondo atrás das dunas ou no mar. Antes de chegar nesse ponto de descanso, passamos por uma área de areia bem plana onde os cavalos se animam a dar um galope. Se você não tem medo, tente! É uma delícia e a sensação de liberdade é total!
Voltamos para a pousada já no escuro, passando entre as casas do povoado e vendo o céu com as primeiras estrelas.
A Sempre Atins oferece cavalgadas ao pôr do sol, ao amanhecer, com duração de um dia todo e até expedições de uma semana indo até o coração do parque, nas áreas mais afastadas. O passeio de três horas custa R$600,00 por pessoa. Vale cada centavo.
Prós – passeio contemplativo, paisagens lindas, sensação de ter o parque todo para você.
Contras – as três horas de passeio passam muito rápido. Talvez na próxima eu faça um investimento em um passeio mais longo.
Dia 2: Lagoas dos Lençóis Maranhenses
Neste dia optamos por um circuito de dia todo pelas principais lagoas do parque – Lagoa Bonita e Lagoa Azul.
Essas lagoas ficam mais afastadas de Atins e mais próximas a Barreirinhas. Saímos com o veículo privativo 4×4 às 9h, passamos pelas dunas do Canto do Atins e entramos na área de restinga percorrendo as trilhas por aproximadamente uma hora até a Lagoa Bonita. O carro não chega nas lagoas. Paramos em um estacionamento e precisamos subir uma duna de 30 metros de altura para chegar até elas. Calma, tem uma escada de 144 degraus – que é coisa recente, antigamente era uma corda para você praticamente escalar a duna.
A visão lá de cima vale o esforço. Você consegue ter uma ideia do por quê os lençóis são assim chamados: dunas formando curvas em volta das lagoas como se fossem lençóis amassados. Ali estão agrupadas várias lagoas para você conhecer e banhar-se. A maior delas é a Lagoa Bonita, que tem o famoso balancinho para foto. A área é tão extensa que você vê os outros turistas pequenininhos no alto das dunas ou dentro das lagoas. Procuramos uma onde não havia ninguém e lá ficamos de molho curtindo o visual. Importante levar blusa UV, óculos de sol e chapéu para proteger a cabeça. A gente acha que não vai ficar queimado por causa da água e do ventinho, mas a possibilidade de voltar desse passeio como um camarão é altíssima.
A água é doce, cristalina e há centenas de peixinhos. Experimente ficar parada dentro da água por um minuto que seja e eles vêm logo te beslicar. A areia também não fica super quente por conta do lençol freático que é muito superficial, estando a uma profundidade de dois a três metros no máximo. Por isso é possível haver povoados no meio do parque. Com acesso a água limpa, os moradores facilmente conseguem cavar poços e formar pequenos oásis habitáveis.
Após a primeira parte do passeio e já com fome, fomos para o Restaurante da Regiane, onde a maior parte dos visitantes para para almoçar. Antes de chegarmos à Lagoa Bonita, o guia já foi conosco no local para escolhermos o pedido e o horário – o que foi a decisão mais acertada! Quando chegamos no restaurante às 13h30 já estávamos com mesa reservada e não demorou muito para os pratos chegarem.
O local estava bem cheio, mas com os grupos já terminando o almoço, então quando nós fomos servidos a “muvuca” já tinha passado. O Restaurante da Regiane serve PFs bem caprichados e fartos. Há opção de carne de sol, camarão, frango, peixe e cabrito. Tudo acompanhado de arroz, feijão, salada, macarrão e farofa. Comida caseira bem gostosa. Aceita PIX e a conta para três pessoas foi R$200,00. Lá experimentamos a cerveja Magnífica, à base de mandioca. Bem gelada e leve.
À tarde visitamos a região da Lagoa Azul, onde o carro já consegue chegar até a margem da lagoa. Esta parte do parque já fica mais cheia de turistas porque o acesso acaba sendo mais fácil. Mas sempre dá para achar um cantinho mais vazio para tomar banho dada a imensidão de tudo por lá. Novamente aproveitamos a água quentinha. Nessa época, as lagoas ficam bem fundas e dá para nadar com tranquilidade.
De acordo com o ICMBio que adiminstra o parque, os melhores meses para se visitar a região são de maio a agosto. É uma época sem chuvas e quando as lagoas estão com nível alto de água. Já de novembro a janeiro as lagoas estão praticamente secas e o ciclo começa a se repetir na virada do ano, com a entrada da estação chuvosa que dura quatro meses, preparando as lagoas para estarem cheias novamente em maio. O Parque Nacional fica aberto das 8h às 18h e atualmente não é preciso pagar ingresso para entrar. As agências e guias já incluem uma taxa nos valoes dos passeios referente à entrada dos visitantes.
Depois de aproveitar a Lagoa Azul nós voltamos ao Canto de Atins para ver o pôr do sol. Mais um lindo entre tantos outros. Paramos em uma duna alta com uma lagoa menor logo abaixo e esperamos o sol se esconder lá no horizonte.
Para fazer o passeio privativo, o custo fica entre R$1.450,00 e R$2.100,00 para um grupo de 3 pessoas, dependendo da agência onde for contratado. Fechando direto nas pousadas geralmente se consegue melhores preços para hóspedes. Nos passeios compartilhados, os grupos são de 9 a 12 pessoas mais ou menos, e os preços ficam na faixa de R$300,00 por pessoa.
Veja aqui o nosso post no Instagram sobre o que levar para o passeio nas dunas.
Prós – passeio onde vimos as lagoas com mais volume de água para banho, tempo suficiente de parada em cada ponto para aproveitar e não ficar corrido.
Contras – a parte de deslocamento é muito desconfortável. A jardineira bate muito na estrada de areia e a coluna vai pro espaço.
Se você for mais sensível, é melhor fazer o circuito de lagoas do Canto do Atins, que fica bem próximo ao vilarejo e não passa por muitas trilhas.
Dia 3: Rio Preguiças e Revoada dos Guarás
No terceiro dia, aproveitamos a pousada na parte da manhã e nos preparamos para sair após o almoço para o passeio no Rio Preguiças. O rio, que possui extensão de 135Km, é a principal ligação entre Barrerinhas e povoados como Atins, Mandacaru e Caburé, que ficam em suas margens. Suas águas são tranquilas e inluenciadas pelas marés enchente e vazante.
O tráfego de barcos no rio é intenso, tanto por causa dos passeios turísticos como pelo leva e traz de mercadorias entre os povoados e deslocamento de seus habitantes. A paisagem é muito bonita, o rio é largo e a vegetação de mangue bem densa. Em suas margens avistamos muitas palmeiras de buriti e de juçara. Começamos o passeio pegando a lancha no porto de Atins e indo até a primeira parada, no povoado de Mandacaru.
Em Mandacaru, a população vive basicamente da pesca e do artesanato. São várias lojinhas em volta do cais vendendo produtos de palha de buriti, doces e cachaças artesanais. Foi a maior concentração de sorveterias que já vi – devem ser umas sete ou oito, grudadas umas nas outras, vendendo picolés e sorvetes de frutas típicas da região. Vale a parada em qualquer uma delas para provar picolé de bacuri, buriti, cupuaçu, entre outros. Mais à frente, o farol da Marinha que existe no local desde 1909, porém a construção atual data de 1940. Após subir 160 degraus, você tem uma bela vista do rio e de parte da praia, assim como do parque eólico que vai de Barreirinhas a Paulino Neves com seus 172 aerogeradores.
Próximo destino, povoado de Caburé, na junção do Rio Preguiças com o mar. Hoje o povoado é basicamente uma vila de pescadores, para onde eles vão na temporada de pesca. Não tem luz elétrica e nem pousadas. Em outras épocas, havia investimentos no turismo em Caburé, no entanto, depois que o mar começou a avançar pela faixa de areia que forma a vila, os donos de pousadas e restaurantes abandonaram seus estabelecimentos pois, dizem os nativos, daqui a uma década o Caburé irá desaparecer. Restam ainda barracas de praia onde os turistas param para comer e beber durante os passeios. Do barco avistamos algumas dunas que na verdade eram construções que foram engolidas pela areia.
Por volta das 16h, uma porção de barcos começa a se aglomerar perto de uma das margens do rio, desligar seus motores e todo mundo fica em silêncio. Estamos aguardando a revoada dos guarás. Esses pássaros de penas vermelho vivo, saem pela manhã à caça de alimento nos manguezais. Eles procuram um tipo de caranguejo da região que se alimenta do mangue vermelho, riquíssimo em caroteno. O caranguejo come o mangue, o guará come o caranguejo e assim suas penas ganham essa coloração. O pássaro nasce com penas cinza e somente após o primeiro ano de vida começa a mudar a cor por conta da sua alimentação.
No finalzinho da tarde eles voltam para uma pequena ilha e se abrigam de predadores na copa das árvores. É este o espetáculo da natureza que vamos ver. Eles vêm chegando devagarzinho, em grupos de três ou quatro, depois chegam grupos maiores e aos poucos as árvores vão ficando apinhadas de pássaros. Alguns são mais exibidos e passam pertinho dos barcos.
É preciso paciência porque eles podem facilmente se assustar e demorarem mais para voltar para os ninhos. Portanto, não seja aquele turista que leva um drone para voar durante esse tour! Há relatos de visitantes que levam seus drones, os bichos se espantam e, além de todo mundo pagar o passeio e não ver nada, também interfere no ritmo da natureza dos animais.
Quando a gente acha que já apreciou tudo, olha para trás e vê um sol gigante se pondo no mar. Ali ficamos parados mais alguns minutos para admirar e já no início da noite estamos de volta ao porto de Atins.
Nós fizemos o passeio privativo na lancha Confort da própria pousada e custou R$470,00. Nas voadeiras coletivas, o preço médio é de R$120,00 por pessoa.
Prós – as paisagens do rio e o pôr do sol são belíssimos
Contras – o nome “revoada” faz você ter uma ideia um pouco diferente do que o passeio é na realidade. Acho que se o nome mudasse para “voo dos guarás” ou “retorno dos guarás” ficaria mais condizente. Com o nome “revoada”, fica a sensação de que você verá centenas de pássaros voando de uma só vez, o que não é o caso.
Para quem vai ficar mais dias na região, ainda há muitas outras opções de passeios para se fazer em Atins. Já tenho alguns anotados para uma próxima oportunidade:
- sobrevoo nos Lençóis: para esse passeio, feito em um monomotor, é preciso ficar pelo menos um pernoite em Barreirinhas, pois o voo é geralmente pela manhã. Há opções de voo de 30 minutos e de uma hora, a partir de R$730,00 por pessoa
- Passeio de caiaque e SUP pelos igarapés: margeando os manguezais e canais, uma hora e meia de passeio com remada de nível leve. Valor a partir de R$160,00 por pessoa.
- Quadriciclo: passeio de dia todo que vai até os pequenos lençóis de Vassouras, passa pelo parque eólico e cruza o Caburé até a foz do Rio Preguiças. Em média é cobrado R$700,00 por um quadriciclo para duas pessoas.
Se está procurando um lugar com natureza inigualável (onde mais no mundo existe uma paisagem como a dos Lençóis?) e que ainda não foi tomado pelo turismo de massa, Atins é a escolha certa para você colocar no seu roteiro. Lá ainda há calma e tranquilidade, com o nível de sofisticação que couber no seu bolso.
* Preços dos passeios referentes a pesquisa e contratações feitas no primeiro semestre de 2023.