Maranhão, meu tesouro! – Parte 1
Venha passear conosco em um roteiro de um dia no centro histórico de São Luís do Maranhão!
Quando Daniel de La Touche navegou pela Baía de São Marcos em 1612 e chegou até uma grande ilha de rica vegetação e belezas naturais, não pensou duas vezes em fundar ali a França Equinocial, batizando a ocupação em homenagem ao “rei menino” Louis XIII, que tinha apenas onze anos. Nascia a cidade de São Luís.
Upaon Açu, como a ilha era denomidada pelos índigenas tupinambá que ali viviam, foi alvo de disputa de três povos europeus que pretendiam colonizar as Américas. Esteve por três anos sob domínio dos franceses, sucumbiu às invasões holandesas e apenas em 1645 os portugueses conseguiram tomar o controle da região em definitivo e dar início à colonização propriamente dita, trazendo africanos escravizados para a cidade já em 1661.
Toda essa mistura de povos nativos da região com os europeus e os africanos criou um caldeirão cultural que se reflete até hoje nas danças típicas, na culinária, na música e no artesanato. Então, nada mais justo do que separar um dia do seu roteiro por São Luís para vivenciar essa herança no centro histórico tombado pela UNESCO.
Nosso roteiro de São Luís começa pela manhã no Cais da Praia Grande, onde entramos no conjunto arquitetônico do Projeto Reviver. Mais de mil casarões coloniais estão listados no projeto de revitalização do centro histórico, que já teve seus altos e baixos desde o início dos anos 90. Já estive na região nas épocas em que os casarões estavam muito bem preservados e nas épocas em que se notava o abandono. Atualmente, o Reviver não está no seu auge, mas percebi as ruas mais limpas do que nove anos atrás e o local mais vivo, com muito comércio e visitantes.
A Rua Portugal é a porta de entrada para a viagem no tempo. Ali está a maior concentração de azulejos originais preservados da cidade e é um ótimo lugar para fotos. Nos meses do São João, a rua fica decorada com bandeirinhas coloridas e é muito bonito de se ver! Os azulejos foram trazidos da Península Ibérica para revestir as fachadas com o intuito de amenizar o calor dos trópicos e em muitos momentos nos sentimos caminhando pelas ruas do Porto ou de Lisboa.
Na rua Portugal, há diversas lojas de artesanato local e lojinhas de souvenires de gosto duvidoso, mas que são divertidas de explorar. Esta é uma região que concentra muito da vida cultural ludovicense, com museus e centros para divulgação da cultura tradicional popular. Falaremos deles mais adiante no próximo post.
A próxima parada do roteiro é o Beco Catarina Mina. Catarina foi uma escrava belíssima que conseguiu juntar fortuna com presentes recebidos de comerciantes portugueses. Ela comprou sua alforria e se tornou também comerciante e senhora de escravos. Catarina desfilava pelas ruas da cidade com vestidos feitos de seda, seguida por suas escravas igualmente bem vestidas.
O casarão que Catarina comprou para ser sua moradia, hoje é um museu sobre a fundação de São Luís nesta rua estreita, com calçamento em pedra lioz, trazida de Portugal. Nos degraus da rua, os turistas e locais se misturam nos bares, cafés e na sorveteria Mr Cold, que recomendo demais a visita para provar os sorvetes de frutas típicas da região. Não deixe de experimentar o sorvete de bacuri!
Descendo pela Rua de Nazaré chegamos até a Praça do Reggae onde há um museu dedicado ao ritmo jamaicano. Consta que é o único museu com este tema fora da Jamaica. São Luís se tornou a Capital Nacional do Reggae no final da década de 80, início da década de 90.
Uns dizem que o ritmo chegou por lá trazido por marinheiros nos anos 70 que deixavam discos de reggae no cais do porto em troca de bebida e de certos tipos de lazer. Outros já contam que os rádios de ondas curtas conseguiam captar transmissoras caribenhas e o ritmo foi se popularizando. Se você tiver pique no final de um dia de passeio, pode retornar para a área do Reviver e participar de um baile de reggae ou apenas curtir o som em alguns dos inúmeros bares que ficam abertos até tarde na região. A noite de sexta-feira costuma ter bastante movimento por lá!
Agora nós vamos seguir pela Rua da Estrela até o Mercado das Tulhas, construção colonial que ocupa uma quadra inteira. O curioso desse edifício é que ele por fora tem formato retangular, com pequenas lojas de artesanato e comércio variado, mas ao passar por um dos quatro pórticos de entrada ao pátio interno, nos deparamos com uma construção circular onde funcionam boxes vendendo todo tipo de produto típico: farinha d´água, tiquira (aguardente de mandioca), pimentas, camarão seco, doces e geléias.
O mercado é um bom ponto de parada para provar a juçara – o verdadeiro açaí – acompanhado de tapioca, farinha d´água ou camarão seco. Parece estranho, mas é delicioso e tem tanta sustância que já é um almoço!
E continuamos o passeio até a Rua do Giz, considerada pela revista Casa Vogue a sexta rua mais bonita do Brasil, ponto para mais fotos instagramáveis. Ao subir toda a sua extensão e continuar até a Praça Dom Pedro II, passamos pela Igreja Matriz de Nossa Senhora da Vitória, também conhecida como Igreja da Sé. Sua construção começou no ano de 1690 pelos jesuítas e seu altar-mor é belíssimo, todo em talha dourada, considerado um tesouro do período barroco.
Nem sempre a igreja está aberta para visitação, é meio que uma loteria adivinhar o horário. Então, para não perder a viagem, o mais certo é ir no horário das missas: de quarta a sábado às 17:30 ou aos domingos às 10:00 e às 17:30. Em frente à igreja, está o chafariz da Mãe-D´Água que, diz a lenda, seduzia e enfeitiçava com sua voz os pescadores e índios que navegavam pelos rio do Maranhão. Nada mais do que uma sereia, não é?
Ao redor da praça, estão os edifícios administrativos do governo da cidade e do Estado, incluindo os bonitos prédios da Prefeitura de São Luís e o Palácio dos Leões, que iremos visitar em seguida.
O Palácio dos Leões foi construído no ano de 1766 no local da fundação da cidade, onde 150 anos antes havia uma fortificação francesa. Fica em terreno elevado e de lá temos uma bela vista da foz do Rio Anil e podemos obsevar o fenômeno das marés, quando a cada seis horas o rio e o mar “secam” e o leito de areia fica exposto.
Em estilo neoclássico, hoje ele é residência do governador e sede do governo do Estado do Maranhão. As visitas aos salões de recepção são gratuitas, guiadas e não precisam ser agendadas com antecedência. Apenas chegue na porta do palácio de terça a domingo, das 9:00 às 17:00 e logo um guia irá te receber, formar o grupo, te entregar uma proteção para os calçados e iniciar a visita. O tour é bem rápido, com duração de aproximadamente 15 minutos, e vemos alguns exemplares de mobiliários antigos franceses e portugueses, quadros e tapeçarias e parte da coleção de arte particular do poeta Arthur Azevedo que era um entusiasta e colecionador de pinturas e gravuras.Fiquei surpresa ao saber que os jardins do Palácio são projeto de Roberto Burle Marx, mas infelizmente esta área não é mais aberta ao público – só conseguimos ver o jardim pela janela da sala de banquetes.
Pausa para um refresco na Praça dos Poetas, logo ao lado da sede da Prefeitura, onde há um quiosque agradável, sombra e água fresca – itens essenciais em uma viagem ao Maranhão. Na praça, há homenagens aos grandes escritores maranhenses como Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, Gonçalves Dias e Maria Firmina, entre muitos outros. Por conta dessa pujança literária no final do século XIX e início do século XX, São Luís ganhou o apelido de Atenas Brasileira e o título entre os locais de “português mais bem falado do Brasil”.
Quer ver o trajeto a pé dessa primeira parte do nosso passeio? Só clicar neste link.
No próximo post de São Luís, vamos dar o roteiro para a parte da tarde e links para serviços, hotéis e restaurantes.
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